A propósito de mãe e poesia… - Maria Alberta Menéres
Maria Alberta Menéres, a propósito do seu livro O poeta faz-se aos 10 anos, relata uma situação de aula em que a mãe era o tema sobre o qual os alunos tinham de escrever. Observa os resultados dessa aula.
Há tanta coisa a dizer e parece que não se consegue dizer nada. A emoção sobrepõe-se ao pensamento. É sempre assim quando se propõe que escrevam sobre a mãe. Dolorosa e concentrada se pressente então a escrita. Mas reparo: sempre de uma beleza e de um insólito, por vezes insuspeitados.
Motivação:
Lembro-lhes que a mãe pode estar em tudo o que se vê, se a quiserem ver. Como a poesia: na parede branca, no mar, nas escamas do peixe a brilhar ao sol, no sol, no ar, nas pedras, até nas palavras que a caneta desenha no papel, no giz branco que escreve no quadro a palavra mãe. A mãe ou a imagem da mãe. Tal como acontece com a poesia, do olhar para as coisas de todos os dias podemos extrair um sentido que é presença ou saudade.
Os olhos da minha mãe são como as escamas
reluzentes dos peixes do mar.
O mar é o seu corpo
e o seu coração é o Sol.
Os seus cabelos são como as penas de um galo,
a sua boca é suave como o vento
as suas mãos são finas como areia.
Os seus dentes são de marfim.
O meu amor por ela é tão grande
que nem posso dizer.
O maroto do Salgueiro, que até nem é feio, saiu-se com este pequeno poema:
Mãe, como tu és bela.
Já me disseram
Que sou parecido contigo.
Este dito me consola,
porque me acho feio.
Mas se sou parecido contigo,
como posso ser feio?
Mãe, mãe, eu sou bonito
porque tu és bela.
Poesia à Mãe
Tu és linda minha mãe
como as estrelas do céu.
Teus olhos cantam em coro.
Mãe, o teu carinho é tanto
que o sonho é belo para mim.
Ouves brilhar o sol.
Vês o som do mar?
Tu choras e a chuva cai.
Mas eu sinto-me alegre e sei
que o sol brilha
como a coroa de um rei.
A moleira mói a farinha,
E tu, mãe, andas no ar a voar
Como a andorinha.
E finalmente, aqui, o lindo poema de José Catita:
Olhei para a janela e estava a chover.
Minha mãe estava tão metida na chuva
que a confundi com lágrimas.
Mãe, repara em ti.
Olha os teus olhos como são bonitos
da cor do céu.
Mãe, olha o teu cabelo:
parece cor de trigo ou milho
no Verão.
Mãe, por que te chamas mãe?
Maria Alberta Menéres
O Poeta Faz-se aos 10 Anos
Porto, Ed. ASA, 2003
E tu, queres também criar um pequenino poema dedicado à tua mãe ou a outra pessoa de quem gostes muito?